Ex-delegado de Ourolândia poderá pegar até 30 anos de prisão na terça-feira
*Por Ricardo Almeida
Quase 12 anos depois, finalmente, o ex-delegado auxiliar de Ourolândia,
Antonio da Silva Lima, o Antonio Lima, será julgado por homicídio,
duplamente, qualificado, ou seja, sem chance de defesa da vítima e por
motivo torpe contra o agricultor, Espedito Isaías Cavalcante, de 36
anos. O júri popular ocorre nesta terça-feira, dia 24, às 08h30, no
Fórum Jorge Calmon, no centro de Jacobina. Com isso, o acusado poderá
pegar de 12 a 30 anos de prisão, conforme o artigo 121, do Código Penal.
Ele reinou, em Ourolândia, de 89 a 2001.
O assassino está
preso desde maio de 2008 no presídio de segurança máxima de Serrinha. Na
ocasião, o réu foi flagrado por porte ilegal e tráfico de armas numa
blitz da Polícia Rodoviária Federal (PRF), na região de Feira de
Santana. Na época, o ex-delegado já tinha contra ele dois mandados de
prisão preventiva em aberto pela Comarca de Jacobina, justamente, pela
execução do agricultor Espedito Cavalcante cujo crime brutal aconteceu,
em 19 de novembro de 2000 e por torturar familiares da referida vítima,
em 1º de março de 2001. Além disso, pesa contra o imputado o crime de
formação de quadrilha. Costumava assumir sozinho os crimes na certeza da
impunidade.
Por isso, caso seja, de fato, condenado
pelo júri popular na próxima terça-feira, Antonio Lima poderá ser
apenado ainda de quatro a oito anos por porte ilegal, de acordo com o
artigo 17, da Lei Nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003, de quatro a dez
anos por tortura, agravada por ser então agente público e de um a três
anos, podendo dobrar por formação de quadrilha. Expulso da Polícia Civil
de Jacobina por determinação da Justiça a pedido do Ministério Público
(MP), em abril de 2001, o outrora fora da lei passou a viver foragido,
sobretudo, na região de Jacobina, Juazeiro, Capim Grosso e Feira de
Santana.
O detalhe cruel, segundo o relato de moradores
na região de Ourolândia, ouvidos na época, do assassinato do agricultor
Espedito Cavalcante, o então delegado auxiliar costumava matar pessoas
humildes e inocentes e depois ele mesmo avisava a família. No caso do
agricultor, o acusado abordou o trabalhador na Praça da Rodoviária, no
centro, por volta das 15h, sob a acusação de porte de arma. Na
oportunidade, o mesmo rendeu a vítima em plena praça pública, passando a
espancá-la, violentamente, sobretudo, na altura do rosto. A meta dele
era eliminar os “pernambucanos”, numa alusão a naturalidade da família
da vítima. Tudo começou quando o então delegado flagrou o agricultor
portando uma espingarda de socar na zona rural. A partir a rixa
acirrou-se.
No fundo, o algoz permaneceu judiando daquele
cidadão algemado e, portanto, indefeso durante cerca de 05h, “passeando”
e tomando cerveja com o seu comparsa no bairro da Barragem e no
Distrito de Lages do Batata. Enquanto, o agricultor agonizava dentro da
viatura gol. Comenta-se que em Lages do Batata, o trabalhador rural fora
visto todo ensanguentado por uma senhora que o reconheceu, que,
inclusive pediu em sua ingenuidade que ele fugisse, porém, ele apenas
respondeu-lhe que estava somente esperando a hora da sua morte, o que,
de fato, acabou acontecendo, por volta das 19h, na altura da Serra do
Tombador. Em vida, a vítima fez um texto antevendo a morte. A suspeita
de porte de arma era falsa. Na realidade, era um "cabrito", isto é, fora
plantada pela dupla de assassinos.
Naquele trecho da Rodovia
368, Antonio Lima deu o tiro de misericórdia na cabeça, com uma pistola
380. Na sequência, conduziu o corpo até o hospital Antonio Teixeira
Sobrinho, deixando-a na pedra e depois mandou comunicar à família que
aquela altura encontrava-se desesperada em busca do seu parente. No
reconhecimento do corpo no necrotério, familiares ouviram do médico
legista Dr. Carlos Santana que trata-se de uma mais execução cometida
pelo então delegado de Ourolândia. Outro pormenor intrigante é que o
acusado era conhecido como “matador” naquela região, mas, não respondia a
nenhum crime doloso ou não. Alegava sempre resistência à prisão.
Na verdade, o ex-delegado não contava com a coragem da família do
agricultor e, com isso, imaginava que ficaria mais uma vez impune,
graças à conivência de seus superiores, entre eles, a então
delegada-titular, Aída Ferreira, depois transferida para Mutuípe, que,
também responde pela tortura e invasão de casas da mesma vítima no Sítio
São Bento, distante 3 km da cidade no dia 01 de março de 2001. Na
prática, no dia 27 de fevereiro, um comparsa do bando do delegado de
alcunha Leão fora assassinado na Rodovia 368, no trecho conhecido como
“Corte Grande”, próximo a Lages do Batata. Detalhe: nenhum Boletim de
Ocorrência (BO) foi lavrado. Há indícios de que o próprio Antonio Lima
matou o cúmplice para não pagar uma dívida.
De imediato, sem
nenhum critério legal, o acusado reuniu policiais civis e comparsas,
calcula-se que eram mais de 20 homens e torturaram e prenderam parentes
do agricultor morto durante um dia inteiro. Além disso, o fora da
lei-mor, apropriou-se de mais de R$ 4,5 mil reais dos familiares e de
documentos pessoais. Enfim, barbarizaram aquela família. Contudo, mesmo
massacrada não temeu a ação criminosa do bando liderado pelo então
delegado Antonio Lima e a titular Aída Ferreira. No fundo, a prole
denunciou as atrocidades a Promotoria Pública.
Na ocasião, o
caso também chegou ao conhecimento do senador, Eduardo Suplicy (PT-SP),
que, de pronto, cobrou providências a Procuradoria-geral de Justiça do
Estado da Bahia. Na época, louve-se o trabalho dos promotores Dr. Luiz
Alberto Lima Figueiredo, Dr. Luciano Pita Santos e do Dr. José Jorge
Meireles de Freitas. O fato é que mesmo estando diante de um bandido da
mais alta periculosidade, o grupo de promotores não intimidou-se e, com
isso, ofereceu denúncia a Justiça, que, por sua vez, acatou.
Agora, a família e o cidadão de bem, em geral, esperam, ansiosamente,
que a justiça dos homens seja feita na próxima terça-feira.
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