Garantir terras para indígenas na Amazônia poderia render US$ 1 tri ao Brasil
Garantir
aos indígenas de países da Amazônia a posse de suas terras poderia
gerar benefícios econômicos que, só no Brasil, ultrapassariam US$ 1
trilhão em 20 anos, de acordo com um novo estudo realizado pelo World
Resources Institute (WRI), um "think tank" da área ambiental sediado em
Washington, nos Estados Unidos. A pesquisa, divulgada nesta sexta-feira
(7), na capital norte-americana, foi realizada no Brasil, na Colômbia e
na Bolívia e revelou que nas áreas indígenas onde a posse da terra é
garantida, o desmatamento é consideravelmente reduzido. Entre 2000 e
2012, nessas áreas, a devastação foi 40% menor no Brasil, 50% menor na
Colômbia e 35% menor na Bolívia. A partir dessa análise comparativa, os
autores calcularam o custo-benefício do investimento na proteção de
terras indígenas, considerando a economia que seria feita com a redução
das emissões de carbono e com a preservação de serviços de conservação
do ecossistema, como água limpa, retenção do solo, polinização,
biodiversidade, controle de inundações e rendimentos das comunidades com
turismo e recreação. De acordo com Juan Carlos Altamirano, economista
do WRI que coordenou o estudo, a análise concluiu que proteger a posse
das áreas indígenas é um investimento de baixo custo com altíssimo
retorno. Os benefícios econômicos estimados em um período de 20 anos
são: de US$ 523 bilhões a US$ 1,1 trilhão para o Brasil, de US$ 123
bilhões a US$ 277 bilhões para a Colômbia, e de US$ 54 bilhões a US$ 119
bilhões para a Bolívia. Os custos chegam ao máximo de 1% dos benefícios
totais, segundo o estudo. "A maior parte desses benefícios econômicos
estão relacionados à conservação dos ecossistemas, como controle do
clima e da água, polinização e preservação de espécies importantes.
Esses benefícios têm imensos impactos nas atividades produtivas - que
são muito mais onerosas sem os serviços fornecidos pelos ecossistemas",
disse Altamirano. De acordo com ele, embora os valores estimados pareçam
altos, é possível que eles estejam até mesmo subestimados. Os
pesquisadores identificaram três tipos de vantagens com a proteção das
áreas florestais indígenas: benefícios sociais para as comunidades
locais - como criação de empregos e aprimoramento da assistência médica e
educação -, benefícios para as ações coletivas - como solução de
conflitos nas comunidades - e benefícios para ecossistemas. "Só
consideramos os benefícios ao ecossistema, porque os benefícios
coletivos e sociais são difíceis de quantificar. Ainda assim, quando
somamos as vantagens econômicas da captura de carbono que seria
proporcionada à disponibilidade de água, polinização e outros serviços
ecossistêmicos que reduziriam custos para as atividades produtivas,
chegamos a esse valor muito alto", explicou o economista. De acordo com
ele, os valores calculados pelo estudo para os benefícios econômicos em
20 anos foram considerados até baixos por especialistas em mudanças
climáticas como Lord Nicholas Stern, presidente do Instituto de Pesquisa
Grantham, da London School of Economics. "Quando lançamos o relatório,
Stern opinou que nossa estimativa para os benefícios econômicos parece
modesta demais, considerando a magnitude dos impactos do desmatamento na
economia mundial", disse Altamirano. Stern, que foi economista-chefe do
Banco Mundial entre 2000 e 2003, afirmou que a proteção de terras
indígenas pode ser uma forma sustentável de levar desenvolvimento e
crescimento aos países amazônicos - o que é uma exigência para enfrentar
o desafio da crise climática.
Bahia Noticias
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